26 outubro 2015

Médici - Transamazônica x INCRA, no livro de Flávio Alcaraz Gomes

"A execução do plano de colonização da a
Amazônia foi confiada ao INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
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Paralelamente à rodovia Transamazônica e num intervalo de dez quilômetros, serão construídas agrovilas, Essas agrovilas são formadas por 48 ou 64 casas em lotes de 25 metros de frente por 120 de fundos, doados aos colonos. A exemplo do que acontece com os cem hectares cedidos aos camponeses, a casa e o lote são financiados em 23 anos. Cada agrovila terá um grupo escolar, templo ecumênico, pequeno comércio, farmácia e posto médico.  A superfície total de cada agrovila é igual aos dos lotes de terra distribuídos aos colonos: cem hectares.
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O chefe e árbitro de cada agrovila é um técnico rural contratado pelo INCRA, que os colonos apelidaram de 'prefeito'.
Ele mora no núcleo e possui a assessoria permanente de um assistente social e de um engenheiro agrônomo,
Diariamente o prefeito percorre os lotes de sua jurisdição, orientando os colonizadores em seu trato com a terra.  Com tal assistência, acredita o governo, que a erosão causada pelas chuvas e detida pelas curvas de nível, será em grande parte atenuada e as terras poderão produzir durante vários anos sem necessidade de adubos.
Cabe ainda ao prefeito a superintendência dos diversos serviços da agrovila, inclusive o do posto de venda de gêneros alimentícios e a farmácia.  Cada colono, ao instalar-se na terra e durante um prazo que pode estender-se até oito meses, percebe um salário mínimo regional mensal(Cr$182,80), que tanto pode ser havido em dinheiro como em gêneros.
Dos cem hectares, o governo desmata quatro para o plantio inicial.  Posteriormente, financia os futuros desmatamentos à razão de trezentos cruzeiros por hectare.
É proibido derrubar mais do que cinquenta hectares de mata por lote, já que os cinquenta restantes serão destinados à reserva florestal e biológica.
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Até maio de 1972, o INCRA tinha instalado sete agrovilas no trecho localizado entre as cidades de Marabá e Altamira.  Colonos de vinte e um Estados da Federação ali estavam localizados. A maioria é oriunda do norte e nordeste, se não, vejamos a distribuição:
Pará - 200 famílias; Ceará - 175 famílias; Rio Grande do Norte - 125; Minas Gerais - 90; Pernambuco - 80; Maranhão - 70; Piauí - 69; São Paulo - 60; Rio grande do sul - 53; Paraíba - 49; Paraná - 43; Alagoas -30; Goiás - 28; Sergipe - 20; espírito Santo - 19; Santa Catarina -8; Guanaara -3; Acre -1; Amapá - 1; Rondônia - uma família.
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Cerca de mil famílias oriundas do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, Maranhão e Pernambuco, sem paciência de esperar pela seleção, ali se fixaram, por lotes por eles próprios desmatados e qwue já começaram a cultivar. Diante do fato consumado, o INCRA decide regularizar a situção dos 'invasores'.
A cada família será atribuído também um lote de cem hectares. sendo-lhes proporcionadas as mesmas facilidades com que os demais colonos são beneficiados.
...Amanhã ou depois(e esse amanhã já é quase hoje), quem viajar pela Transamazônica, saindo de Recife e de João Pessoa, rumo ao Peru, num itinerário de 5.500 quilômetros em meio a floresta até há pouco virgem - deparará com um rosário intermitente de agrovilas, possuindo, no intervalo entre uma e outra e a cada quinhentos metros, uma casinha instalada em meio a uma lavoura.
E mais, a cada cinquenta quilômetros o INCRA vai erguer uma Agrópolis, ou seja, uma superagrovila, Esta se situará também, defronte à estrada, numa área de trezentos hectares, dos quais cento e sessenta serão urbanizados.  A Agrópolis terá 176 lotes, com uma casa cada um, devendo, teoricamente, abrigar 2.380 habitantes.  Cada Agrópolis, portanto, será a capital de núcleo de agrovilas e, em seu território serão instalados armazéns e silos, grupo escolar e ginásio, posto medico e hospital para pequenas cirurgias, além de posto de gasolina e motel para turistas."

Muito bom! O relato acima faz parte da saga do jornalista Flávio Alcaraz Gomes, que durante o governo do General Médici, escreveu o livro  Transamazônica - a Redescoberta do Brasil, após ter viajado e verificado in loco como iam as obras.
O próprio Alcaraz nos dá uma dica das dificuldades que tal monumental projeto enfrentaria quando no capítulo lll, "A ocupação da terra", identifica problemas, barreiras e vícios de comportamento por parte dos funcionários do INCRA, que certamente foram determinantes para o andamento da epopeia. Ele estranha: 
"Somente na área de Altamira possui setecentos e oitenta e dois funcionários, a maioria dos quais com seu salário engordado por polpudíssimas gratificações. E em que pese  a burocracia do Instituto e a 'importância' de alguns de seus servidores(um certo Dr. Fonseca Neto, seu delegad em Belém, me fez tomar chá de cadeira durante várias horas sem dignar-se a me receber), o INCRA dá a impressão de estar desempenhando a contento suas funções."
O livro foi publicado em 1972 pela Cultura.

Foto escultura que criei entre 2003 e 2006, no Pontal do Paranapanema/SP

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